08 julho 2009

Movimento de Cidadãos pela Torre, Pinhal Novo

Quem Somos ?

Surgimos em 2003 e assumimo-nos como Cidadãos preocupados com o perigo de descaracterização da vila do Pinhal Novo - lugar marcado, na origem e no presente, pela existência da ferrovia e da comunidade ferroviária -, e optámos pela defesa primeira de um símbolo de Identidade ameaçado: a Torre de Sinalização e Manobra ferroviária, obra singular na arquitectura e engenharia portuguesas, inaugurada em 1938, e da autoria de Cottinelli Telmo.

Organizamo-nos sob a forma de um movimento cívico, aberto ao maior número possível de pinhalnovenses e/ou amigos de Pinhal Novo, que acerca desta vila queiram expressar opiniões, debatê-las e divulgá-las, como forma de ajudarmos a construir as intervenções - de carácter diverso - no lugar onde escolhemos viver. Estamos, assim, abertos, a colaborar e dialogar com todas as entidades que também neste território trabalham e para com este sítio tenham uma atitude activa e construtiva.

Sem Memória não há Futuro !

Conscientes de que a continuidade e a renovação da malha urbana do sítio onde vivemos, é uma realidade e uma necessidade, também sabemos que sem Memória, sem História, não há Identidade, não há Futuro.

Desejamos no Presente criar um Futuro liberto de interesses conjunturais. O futuro terá de apresentar marcas de um Passado e de um Presente que nos orgulhem: no Presente não queremos deixar invisíveis para o Futuro lugares, edifícios, zonas verdes, simbólicos desta vila, desta freguesia, deste concelho; não queremos que tudo se transforme em nome de rua, de largo ou praça, nem passo a passo, no perímetro urbano, lembrar “aqui era…”

A Torre e a Estação, da mesma idade, são símbolos de um Tempo ido, como o será do “tempo de hoje”, esperamos, a nova Estação. Alguns quarteirões - ainda intactos - do núcleo original de Pinhal Novo (zona Sul, grosso modo), ligada à comunidade ferroviária, são também expressões dessa Memória que acreditamos valer a pena preservar. E também consideramos que urbanizações novas, de qualidade, e os nossos muito novos e muito esperados jardins - ex.: Praça da Independência - são lugares de Presente e de Futuro, de bem-estar que queremos que aqui se viva, se respire.

REFER à margem do sentir da população

Convictos da importância da Torre como elemento excepcional de arquitectura de valor patrimonial local, e representativo das raízes e tradições ferroviárias de Pinhal Novo; tendo vindo ao conhecimento dos pinhalnovenses, em 2003, a intenção da REFER a demolir, à margem do sentir da população, tornou-se urgente esclarecer e sensibilizar acerca do valor do edifício.

Em 2003, quando surgimos, desconhecíamos as intenções inerentes ao projecto da nova estação, desconhecíamos a sua correcta implantação no terreno e as implicações que traria no tecido urbano ou no tráfego rodoviário; sabiamos que existem metas para a conclusão da nova estação de Pinhal Novo, pois fazia parte da modernização das vias férreas do Sul do país, que tinham no horizonte a realização do Euro de Futebol 2004.

Em Fevereiro/Março de 2003, a população de Pinhal Novo apenas foi informada numa única sessão de esclarecimento em 2000 acerca da modernização da linha. Aí foi apresentada uma muito vaga planta de zonamento para a implantação da nova estação, a uma escala muito reduzida; desde então nunca mais a população foi ouvida ou esclarecida sobre este projecto que, afinal de contas, trará muitas consequências à sua vida quotidiana.

Ouvir e sentir a população, discutir ideias e soluções, é um acto democrático, não põe em risco a necessidade natural de progresso e desenvolvimento, e pode constituir um meio de preservar património histórico edificado, com e para a população.

A REFER não tem hábitos de diálogo com os cidadãos para os quais trabalha; muitas vezes nem sequer com as instituições que nos representam enquanto cidadãos - como a Câmara Municipal de Palmela ou a Junta de Freguesia de Pinhal Novo – essa empresa cumpre compromissos anteriormente assumidos.

Aliás a Câmara Municipal e Assempleia Municipal de Palmela em 2002 consideraram a torre Imóvel de Interesse Municipal e deliberaram enviar ao IPPAR a proposta de análise de superior classificação do imóvel.

Perante essa situação, pensámos em 2003 que a REFER não quereria ouvir os Pinhalnovenses e que, quando chegasse com o projecto já concluido, para atingir o objectivo 2004, todos os meios justificariam os fins, até a demolição de um Património significativo, para Nós.

Por uma solução integradora, num cenário de modernização

Em 2003 pensámos que ainda seria possível uma solução integradora da Torre no contexto da nova estação, uma vez que se dispunha de algum espaço: existiam 7 linhas na parte mais estreita junto à actual estação e de 10 linhas na direcção da Associação de Reformados ou do pavilhão desportivo municipal. Espantava-nos que - tendo a REFER por objectivo construir apenas 6 linhas e os respectivos hangares - faltasse espaço e que a Torre constituisse um entrave às suas intenções.

A Torre, à data, se deixasse de desempenhar a sua função original, poder-se-ia tornar um espaço visitável, no âmbito da possível transformação em Museu do actual edifício-Estação (intenção apresentada pela REFER em 2000, na sessão pública com a população).

É de salientar que são usados dois pesos e duas medidas para a salvaguarda do património por parte da REFER, geralmente consoante a facilidade da solução projectual, ou o peso da intervenção e a consciência das populações, nas decisões tomadas, veja-se em Lisboa, na zona da nova estação de Campolide não de maior importância que a nossa, antes pelo contrário, onde a torre foi salvaguardada, ou no Setil, próximo de Santarém, onde outra torre também foi poupada, locais onde as novas soluções arquitectónicas integraram os objectos de valor patrimonial.

O progresso e o desenvolvimento não podem constituir justificação para que se apaguem os testemunhos históricos de uma comunidade; e não será na ignorância que a nossa população irá aceitar a demolição da Torre ou de qualquer outro objecto-memória.

Património não é só o que tem valor nacional, são as fotografias de família, as casas e os modos de as construir e alinhar, as histórias de vida de ferroviários e de outros muitos profissionais que aqui vivem há décadas, ou que agora chegam; Património local é a Torre de Sinalização, o Coreto, a colecção que ficou de uma oficina de ferreiro, de uma carpintaria, de uma costureira ou de um barbeiro, significativos para a comunidade local.

O que fizémos ?

Diversas reuniões públicas tiveram lugar às 5ªs feiras, ao longo de 2003, em espaço gentilmente cedido pela Junta de Freguesia de Pinhal Novo. Falámos sobre a história dos ferroviários, com a presença de muitos deles que durante décadas trabalharam na CP e habitam nesta terra. Muitos deles trabalharam mesmo na Estação de Pinhal Novo, na Torre de Sinalização e Manobra.

Realizámos um abaixo-assinado que recolheu cerca de 3 000 assinaturas contra a a demolição da Torre. Recorremos ao Parlamento para ouvir deputados dos vários grupos parlamentares. Pela mão de Maria Santos (PS) o Ministro da Cultura foi interpelado acerca da eventual demolição do imóvel.

Em 14 de Março de 2003, o Presidente do IPPAR abriu o processo de classificação da peça como Imóvel de Interesse Público, a fim de determinar se o imóvel representava ou não um valor cultural de importância nacional.

Após publicação de Edital, a REFER reclamou do acto.

Sucederam-se diversos contactos e a REFER admitiu a deslocalização do imóvel para Sul.

Após diversos contactos, a Junta de Freguesia de Pinhal Novo e o Movimento de Cidadãos pela Defesa da Torre de Sinalização e Manobra da Estação Ferroviária de Pinhal Novo, perante a hipótese última apontada pela REFER para deslocalização da peça, haviam concordado com essa situação e que em Setembro de 2004 a empresa suspendeu o processo de deslocalização da Torre, tendo o então IPPAR informado a autarquia de que a REFER ia “iniciar os necessários estudos conducentes à alteração do layout ferroviário da nova estação de Pinhal Novo que permitam a manutenção da Torre no local.

(ofício 0230, de 26.01.2005 da Direcção Regional de Lisboa do IPPAR enviado à Câmara Municipal de Palmela; a autarquia enviou ofício para conhecimento do Movimento).

Desde então assistimos à construção da nova estação, subterrânea; ao encerramento da antiga após obras de “manutenção” que ofenderam diversos painéis azulejares (e cujas réplicas são de qualidade deficiente) e ao decurso do processo de classificação no IPPAR, hoje IGESPAR; assistimos ao abandono da Torre entre linhas, sem que a REFER se voltasse a pronunciar acerca do seu destino ou apresentasse alternativas à sua preservação.

Junho de 2009 – IGESPAR cede à REFER

Em Junho último, fomos surpreendidos com um Edital do município de Palmela, no qual o IGESPAR (antigo IPPAR) assume que – por Parecer do Conselho Consultivo de 30 de Abril de 2009 – a qualidade da Torre está consagrada na classificação como Imóvel de Interesse Municipal e que a sua classificação nesse nível é suficiente para a proteger.

É sabido que houve pressões da REFER junto do Ministério da Cultura para acelerar este Parecer, sucinto e contrário à argumentação técnica que esteve na base da abertura – em 2003 – do procedimento para classificação da Torre como Imóvel de Interesse Público.

É sabido também que a classificação da Torre como Imóvel de Interesse Municipal não tem legalmente meios para garantir a sua não demolição.

Ou estaremos enganados ?

O IGESPAR, o Ministério da Cultura deve responder à população e perante o Parlamento acerca dos meios legais que garantem a preservação de qualquer edifício como Imóvel Interesse Municipal, em particular quando o imóvel em causa não é propriedade municipal.

Queremos ser esclarecidos e despertar para a consciencialização e a mobilização de todos, para a tomada de medidas que visem ainda impedir a demolição da torre!

Queremos Todos demonstrar um claro descontentamento por actos que não protejam o que é de Todos Nós.

A REFER deixou de lado os planos de deslocalização ou alteração do layout e argumenta agora com ligações a Poceirão no quadro da ligação do novo aeroporto à plataforma logística.

Mais uma vez é uma justificação conjuntural. A Torre ficou de pé; passaram 6 anos, está abandonada porque não foi integrada no layout como deveria ter sido. O arquitecto da nova estação também ignorou a existência da obra de Cottinelli Telmo – por ser uma obra de engenharia invulgar nos anos 30 ? Por ignorância da história da ciência e da técnica ? Por mero capricho? Por pressão do encomendador?

Queremos que nos expliquem tecnicamente o motivo pelo qual, de novo, a REFER quer demolir a Torre.

Será mais uma situação conjuntural, cremos. Entretanto ela vai-se degradando, como a de Campolide – que lá ficou, com vidros partidos ao abandono.

Queremos a Torre de pé ! Queremos conciliar Passado e Futuro !

É possível modernizar sem destruir !

Uma solução técnica será decerto possível !

Dinheiro à REFER não falta... vejam-se os absurdos por esse país fora: estações demolidas, novas construções gigantescas... num país com poucos recursos financeiros, diz-se...

Junte-se a nós!

Movimento de Cidadãos pelo Pinhal Novo

1 comentário:

  1. Por mais estranho que pareça, a razão do desejo de demolição da 'Torre' radica na soberba dos arquitectos responsáveis pelo projecto da nova estação de Pinhal Novo. Eles não toleram que, no conjunto da obra, os seus nomes fiquem diminuidos pela sombra de Cottinelli Telmo.


    Aníbal de Sousa

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